Qual retorno você espera obter de seu trabalho?
- Camila Tereno
- 4 de jul. de 2018
- 3 min de leitura
Se fizéssemos essa pergunta há uns 30/40 anos, teríamos uma resposta bem diferente do que ouvimos hoje. Naquele tempo, que não faz tanto tempo assim, construir uma carreira implicava, falando de maneira simples, em trocar seu tempo e dedicação pela contribuição com o sucesso da empresa, sendo que a mesma lhe retornava com estabilidade financeira e uma certa garantia de promoções à longo prazo.
Hoje, temos diversos formatos de emprego e pouca estabilidade. O comum é ter vários empregos ao longo da vida, ao invés de construir uma carreira em uma empresa só. Trabalhar de casa, trabalhar sem horário fixo, trabalhar sem bater cartão, trabalhar sem intervalo. Muitas profissões surgindo e outras deixando de existir. Ao mesmo tempo, os modelos de gestão tradicionais ainda prevalecem nas organizações, sendo, porém, desafiados diariamente pelo surgimento de novas tecnologias, o que impacta de forma direta no dia a dia do trabalhador.

Vivemos em um momento de mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo, onde a previsibilidade é limitada. Não existem respostas prontas. As carreiras não seguem mais um formato linear, onde você vai subindo os degraus de forma estável para atingir um patamar final desejado. Hoje, a carreira vai acontecendo, sem uma fórmula, sendo cobrado cada vez mais do indivíduo a responsabilidade por sua jornada e por construir o que quer de si.
Vivemos na modernidade líquida, como proposta pelo pensador Zygmunt Bauman, que implica em menor estabilidade e em menos modelos ideológicos fortes como referenciais para nós, como por exemplo, um claro referencial do que é ter uma boa vida e ou do que é ter sucesso profissional.
E neste mundo em transição, o lugar que o trabalho ocupa nas nossas vidas mudou? Claro que a estabilidade financeira ainda importa, afinal, todos temos contas para pagar, mas acaba sendo mais do que isso. Muitas pessoas que estão hoje infelizes em seus trabalhos, mesmo com remunerações satisfatórias, cogitam uma transição de carreira para alternativas mais arriscadas, com menor garantia de retorno financeiro, mas que proporcione outras coisas em troca.

A pesquisa Carreira dos Sonhos*, que é realizada pela Cia de Talentos há 16 anos, encontrou no estudo realizado em 2016 que 73% dos jovens, 83% da média gestão e 77% da alta liderança não estão satisfeitos com o modelo atual de trabalho e fariam algo diferente se dinheiro não fosse uma preocupação. Já na pesquisa de 2017, a mais recente, outro dado chama atenção: os profissionais estão em busca de um trabalho que gere aprendizado, que permita usar suas habilidades, que possibilite ter integração de vida, que traga significado e seja fonte de felicidade. A remuneração financeira e a estabilidade não aparecem no topo da lista do que é esperado como retorno do trabalho.
De novo: isso não implica que a remuneração não importa. Estamos inseridos em uma sociedade do consumo e em um sistema econômico capitalista. Mas o ponto é: que existem outros fatores pesando nessa balança. Senso de identidade, contribuição, estímulo mental, status, desafios, reconhecimento, autodesenvolvimento, prazer, boas relações sociais, etc.
Não falamos aqui de “encontrar um trabalho perfeito”, onde podemos ser totalmente felizes, o tempo todo. Toda ocupação vai ter seu lado bom e seu lado ruim, mesmo se você encontre aquilo que ame fazer e que continuaria fazendo mesmo se não tivesse mais que trabalhar. Faz parte do jogo negociarmos com nós mesmos as coisas boas e ruins que estamos dispostos a encarar para construir um projeto de trabalho que seja sustentável para nós.
O trabalho faz parte de nossa identidade. Depois do nome, perguntamos “o que você faz” quando conhecermos alguém pela primeira vez. Atribuir significados e sentido para o trabalho pode ser fundamental para um desenvolvimento sadio do indivíduo, especialmente neste mundo em transição, no qual existem poucas garantias e pouca previsibilidade.
*O ultimo estudo (2017) ouviu 82.173 pessoas de todo o Brasil, em diferentes momentos de carreira. Entre os entrevistados estavam 65.833 jovens (estudantes e recém-formados), 11.804 profissionais de média gestão (coordenação à gerência plena) e 4.536 da alta liderança (gerentes sêniores a presidentes). Para ver a pesquisa completa acesse: http://www.carreiradossonhos.com.br/
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